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sábado, 10 de novembro de 2018

A uma desejada companheira

Minha paz,
Meu silêncio,
Minha quietude,
Meu amor finalmente conquistado,
Minha virtude,
Minha alegria de andar desenlutado.
Do final do cativeiro meu,
Olha para quem ensandeceu
E, finalmente, está levantado.
Levantado após o trovão e a borrasca,
E, da dura e tortuosa casca,
Por teu amor e amparo,
Finalmente libertado.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Motu continuum

Agora que os espantalhos figurativos
Que na retentiva a mim acessível
Em modos de afirmação possível se vão transformando,
Sempre passíveis de naufragar
Em lampejos de luz de uma titânica bomba de afecto,
Revejo e recito para mim
As palavras que, desconhecidas, gostaria de ter escrito,
Fazendo da volúpia que me habita
Uma récita para surdos, como todos os outros o são.
Surdos à minha desentendimência,
Bem como aos sons ocos da minha alma litográfica,
Tornados perenes após a minha queda
Neste espaço que me esforço por ocupar,
Aquele de que me considero capaz,
Tudo prescrutando. Tudo ponderando.
Até que, aos lentos e suaves toques que
As paredes da minha cela
Me devolvem em alegria e desespero,
Entenda que nunca chegarei ao cimo da minha montanha,
E nunca ali hastearei a bandeira da minha vitória.
Vitória sobre mim mesmo.
Nem nunca dali verei, orgulhoso, a minha distância.
Nunca ouvirei, porque cego, a cor poliédrica do meu silêncio nem,
Surdo, as curvas ululantes da minha perda.
Sim, pois tudo não passa de um café e uma bola-de-Berlim,
Sábado, pela manhã ainda bisonha, na Praia Grande,
E o trabalho, sempre o trabalho que, inevitavelmente,
Me transcende, com a guerra, sempre inacessível,
Entre passado, porvir e o inabitável e inefável agora.
Talvez algum dia atraque num porto a meu gosto,
Ou nem sequer isso, permaneça em mar alteroso,
Tentando descortinar o sentido de os meus pés nunca
tocarem terra firme.


Incipit tragoediae,
Ceratonia siliqua