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domingo, 14 de fevereiro de 2021

Clamor

O clamor das vozes audazes

Quebram o ardor do meu silêncio,

Viciam-me de orgulho e destreza a enviesada pena.

Acordam em mim laços de memória sensíveis,

Às quais o meu ânimo corresponde,

Fazendo, da floresta densa,

Local aprazível para a minha folia.

E, tal como os mais, ergo-me, fiel a mim mesmo,

À hora em que os mochos esvoaçantes,

Na busca de uma qualquer presa,

Receptáculos da minha oração vespertina,

Se incendeiam, prenhes de amor e luxúria,

À hora em que o frio vento da terra se enobrece,

E, impassível e impetuoso,

Acrescenta o sentido das coisas sensíveis,

Desdenhosamente alicerçadas no vazio,

Às pregnâncias da existência, suave e calorosa,

Após a morte de qualquer desencontro

Entre palavra e seu sentido particular,

Entre as gotas de orvalho que,

Pela manhã, ouço descer dos céus,

Evanescentes pelo acordar do solar ardor,

A que, respeitosa e silentemente, desejoso observo.

O meu desejo adorna então o meu espírito,

Transmutando toda a palavra dita no silêncio da carne,

Em poderosas alavancas de amor e mel.

Refaço-me, então, perdido e só,

Na estreiteza do coração a mim alheio,

Cuja consciência me preenche de uma alegria infantil.

Pueril lembrança dos momentos ditosos,

Que o futuro me reserva no seu devir de mar sem limites,

Alma latejante que me guardo, qual príncipe encantado,

Nos interstícios da minh’alma, assim, feliz, despojada de atavismos.

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