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quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Negrume e poeira


Antes que a vontade soçobre,

E a raiva se vá,

Comerei a carne putrefacta do teu ser.

Esperando à tua morte sobreviver,

Vergastadas em teu corpo desnudo desferir,

Até o sangue bebido nos saciar,

E possamos chamar lar

Ao negrume desta noite sem lei.

Sejamos rocha e betão.

Sejamos nojo e redenção.

Que de dia a luz solar nos cegue,

Que de noite o luar nos fustigue,

Que fodamos à luz das estrelas,

Como a gataria, cães e cadelas,

Objectos podres e pustulentos,

E nos desfaçamos em esterco e lamentos.

Que das janelas saltem os suicidas,

Que das árvores baloucem os enforcados,

E na banheira de Marat

Encontremos salvação das dores que nos atormentam

Até ser impossível amar ou ser amado.

Reencontrar no teu âmago

A destruição e o opróbrio.

Da esperança, a primeira,

Dos humanos, a última.

Apetece-me fingir morrer e após matar.

Matar o mundo que deixar aos mais,

Numa ânsia de aniquilação total,

Da vontade, do engenho, da energia, da esperança, do amor.

Que a negra bílis tal desejo me conceda,

E me veja livre, numa jaula de leões,

Como entre anhos primaciais, aguardando o holocausto.

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