Não quero que o amanhã acorde,
Quero que o há pouco fique no local onde o deixei,
Que possa visitá-lo quando me aprouver,
Sem prescindir de qualquer pormenor.
Não quero que chegue o daqui a pouco,
Com a sua fanfarra de triunfalismo e empáfia,
E tome o lugar do há pouco,
Venerando e experiente há pouco.
Quero a loucura vertiginosa do agora a todo o transe.
Quero tentar a sorte com o indelével e incógnito agora,
Algo que nos descobre,
Enquanto aninhados seres do há e do daqui a.
Pouco.
Quero controlar o inelutável, sentir que, perante ele,
Não sou apenas um vislumbre de centelha,
Entre cujo dealbar e a extinção não vai mais que um instante.
Não quero que chegue o daqui instante,
Ou que.chegue tão de mansinho,
Que me apanhe de surpresa,
Que surja sem se avisar que dei mais um passo rumo ao final.
Final cujos contornos não concebo.
E possa simplesmente dizer:
A morte não existe, nunca existiu e nunca existirá.
Pois! Afinal o que é a morte?
Que é isso de se morrer?
Com mais pormenor!
É um instante?
Pode ser um instante?
E as gentes do instante, que dividem o mundo em mortos e vivos,
Entre opostos antitéticos absolutos,
Não terão eles feito já dano suficiente
Para que lhes continuemos a ligar?
Se o mundo pode ser reduzido a sequências de zeros e uns,
Onde raio ficam os restantes naturais, para não me alongar mais?