15 agosto 2018

Ode ao soldado

E, de repente, sem saberes como nem porquê,
Viste-te engrossar, como soldado,
O Exército d'Aqui,
Na sua guerra eterna contra o Outro.
Foste treinado e equipado,
A despeito de nada d'Ele conheceres,
Na crença, que te ensinaram
desde tenra idade, das más intenções
D'Esse mesmo contra ti.
Nasceste, brincaste, choraste, bateste,
Cresceste e, eis-te aqui,
Garboso soldado dos lados d'Aqui,
A quem os outros admiram e o Outro teme,
Tal como, decerto um dia saberás,
Ser o inverso também verdadeiro,
Quando te vêm passar, fardado e
Altivo portador de tudo que, geração após geração,
os Nossos têm acumulado desde sempre,
De conhecimento e moeda,
Riquezas interiores e exteriores,
Como decerto entenderás.
Mas vive agora.
Vive e aproveita tudo o que os Nossos têm,
para teu contentamento, a te oferecer.
Cresce em contentamento e em força,
Pois de tudo necessitarás
Quando defrontares o Outro.
E todas as recordações,
O mais aprazíveis e em abundância
Sejam, por e para graça dos que nos guiam e sempre guiaram.
Chegará, então, o dia
Em que serás levado para o confronto com o Outro,
E lá te encontrarás, crescendo ainda,
Mas, desta vez, se sobreviveres, em ódio e em amor,
Até esse paradoxo dilacerante, dentro de ti,
Te tornar um Homem, caso o resolvas,
Ou te levar à loucura, se tal não suceder.
Não te esqueças, finalmente, que, se te vires, no hausto da noite,
Em território do Outro,
Alvejado mortalmente, num ermo,
Sozinho e sem ajuda,
Sem teres,
No Alto ou em todos os que conheceste na tua vida,
Em quem te apoiar ou pedir ajuda, perdão ou consolo,
Que a tua morte não será em vão,
Pois, por muito curta que tenha sido,
Sempre marcaste a Vida com a tua presença,
Triste ou alegre, disponível ou ausente.
E, se ainda o puderes, e a dor não to impedir,
Olha o céu, as estrelas distantes e os planetas,
Próximos ou distantes e lembra-te disto:
Também eu engrossei as fileiras dos Nossos,
Na sua guerra eterna contra o Outro,
E após largos anos de luta,
Árdua de altos e baixos, vitórias e derrotas,
Que cicatrizes muitas e profundas me deixaram,
Apenas fiquei ciente da Imensidão
e do Silêncio, respostas à minha procura de
Quem me salvasse de mim próprio ou me guiasse,
Tendo apenas aprendido como a vida é frágil,
E nós apenas sombras desajeitadas,
Procurando a Imortalidade, uns,
Ou a Salvação e a Eternidade, outros.
Tenta lembrar-te, nesses últimos momentos,
Dos gestos de bondade que tiveste para outros,
E, se tal for o caso, a dignidade
Com que sempre te mantiveste altivo,
Corajosa e generosamente respeitador
Da dignidade do Outro,
Tal como da tua.

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