16 fevereiro 2021

Aurora II

Eu sou o Sol.

Eu ilumino os céus.

Eu dou vida ao entardecer das árvores.

Eu acaricio, com ardente amor,

As manhãs floridas da Primavera.

Eu beijo, em pródigas manifestações de afecto,

A manhã alada da minha juventude.

Eu sou aquele que orna o céu matinal

De expectativas e sonhos do dia iniciado e, prenhe de esperanças,

Gero nas mentes a alegria de estar vivo.

14 fevereiro 2021

Clamor

O clamor das vozes audazes

Quebram o ardor do meu silêncio,

Viciam-me de orgulho e destreza a enviesada pena.

Acordam em mim laços de memória sensíveis,

Às quais o meu ânimo corresponde,

Fazendo, da floresta densa,

Local aprazível para a minha folia.

E, tal como os mais, ergo-me, fiel a mim mesmo,

À hora em que os mochos esvoaçantes,

Na busca de uma qualquer presa,

Receptáculos da minha oração vespertina,

Se incendeiam, prenhes de amor e luxúria,

À hora em que o frio vento da terra se enobrece,

E, impassível e impetuoso,

Acrescenta o sentido das coisas sensíveis,

Desdenhosamente alicerçadas no vazio,

Às pregnâncias da existência, suave e calorosa,

Após a morte de qualquer desencontro

Entre palavra e seu sentido particular,

Entre as gotas de orvalho que,

Pela manhã, ouço descer dos céus,

Evanescentes pelo acordar do solar ardor,

A que, respeitosa e silentemente, desejoso observo.

O meu desejo adorna então o meu espírito,

Transmutando toda a palavra dita no silêncio da carne,

Em poderosas alavancas de amor e mel.

Refaço-me, então, perdido e só,

Na estreiteza do coração a mim alheio,

Cuja consciência me preenche de uma alegria infantil.

Pueril lembrança dos momentos ditosos,

Que o futuro me reserva no seu devir de mar sem limites,

Alma latejante que me guardo, qual príncipe encantado,

Nos interstícios da minh’alma, assim, feliz, despojada de atavismos.

11 fevereiro 2021

Scultrice

Nelle diteggiatura com colpi di scalpello,

Sei salito in cima alla piacevole collina,

Dove risede il fedele e tenero monolito,

Custode zelante dell’umana aventura dell’essere vivi.

Dall’alto, quale Filantropo,

Hai portato la fiamma della gioia di affrontare la pietra,

E, fedele alla terra, rendila mórbida e gentile.

07 fevereiro 2021

Pétalas de sal

Revejo, para mim, através das portadas do impossível,

O indesejado símbolo da conjugação itinerante,

Livre de atavismos ou da concupiscência,

E unicamente entregue às horas desejosas do entardecer.

Livre, digo-o uma outra vez,

No sentido, atribuído à palavra,

Dos amantes sem o dom do fogo eterno do toque das carnes.

Epopeia que sequer Jasão, Ulisses ou Héracles

Alguma vez ousaram ouvir, e muito menos viver.

E, da qual, receosos, em mim ungiram,

Infelizes, a alegria de lutar pela redenção da minha linhagem.

Palavras com pessoas dentro

Às horas mortas em que, impassível,

O relojoeiro da sensibilidade

Sustém a respiração até ao rés da terra,

Dedilho ferraduras, enegrecidas pelas recordações.

Recordações do impassível brotar

Do som oblíquo das estrelas

Até já ser apenas possível observar,

Bisonho, o sorriso do dia que se esvai em raios de ternura e amor.

Fica então a terra silente e macia,

Artéria verdejante dos renques de estrelas,

Por nós dispostas, em alegre folia do tempo fugitivo.

Outros

Nisto e naquilo.

Ou no Outro,

Onde nos encontramos casualmente,

Há plenos e ínfimos,

Opacos e translúcidos

Botões de flores sonhadas,

Cujo encontro encarniçado

Nos provoca, com encanto,

A ambivalência da liberdade de dizer um “Olá!”

Forte como uma pétala,

Seguro como o vento,

Denso como uma lágrima de chuva.

Digo Ela

Digo Ela

E milhões de imagens

Sonho possível do impossível sonhado

Retornam à minha meninice

E divertem-se, quais crianças de gelo

Tentando aquecer-se do calor

O intempestivo calor das Festas Estivais

Que, embora impossivelmente próximas

Nos atordoam com suas setas de ouro e prata.

Reluzentes setas.

Adestradas setas.

A Apolo/Páris furtadas e,

Numa trágica canção de si para si

Alcançam a vertigem, sós,

No odorífero silêncio da plenitude selenita.

Amore (traduzione, con l'aiuta una tantum dei traduttore su internet)

Di nuda, Ti ho trovata, volto ambrato. Una mano, d'amore, aperta, L'altra, di lutto, chiusa. Mi hai catturato. Come una sirena slanc...